País registrou mais de cinco mil focos de incêndio na última quarta-feira, a maioria concentrado na Região Amazônica e no Cerrado
Segundo o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil registrou 154 mil focos de incêndio neste ano até o início de setembro. Apesar da Amazônia ser o bioma mais atingido, o município com o maior número de queimadas é Corumbá, em Mato Grosso do Sul, área de Pantanal. Por conta dos incêndios ao redor do território brasileiro, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destaca que o país pode perder o Pantanal até o final do século, se as tendências não forem revertidas.
Nessa mesma linha, o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávio Rodrigues, acredita que a situação do bioma pode alcançar uma condição de não retorno. “O Pantanal tem sofrido com muitas queimadas e incêndios que acontecem em proporções descomunais e nunca registradas. Por conta disso, existem várias perdas de dinâmicas ecossistêmicas, biodiversidade, capacidade bioprodutiva do solo e capacidade de evaporação de rios e áreas encharcadas. Então, há uma desregulação das condições da biosfera na região, de modo que o bioma é profundamente afetado a ponto de alcançar uma condição de não retorno – quando o impacto é tão profundo que os processos ecológicos perdem a capacidade de realizar as funções ecossistêmicas no tempo e no espaço, provocando o esgotamento do bioma”.
Em 2024, o Pantanal apresenta 9.506 ocorrências de focos de fogo, apontam dados do programa do Inpe. Tal número acumulado é cerca de sete vezes maior do que o registrado pelo sistema nesse mesmo período no ano passado, com 1.298 registros. Ao longo das últimas quatro décadas, de acordo com a pesquisa MapBiomas, o bioma registrou ocorrências de queimadas em nove milhões de hectares da região, o que representa 59,2% dos territórios ocupados pelos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Céu de Brasília encoberto pela fumaça causada por incêndios florestais. Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil.
No mês de agosto, o Estado do Amazonas registrou mais de 10 mil queimadas, o pior índice desde 1998, quando o Inpe começou a monitorar os focos de calor na região, por conta disso, o governo estadual decretou situação de emergência ambiental e de saúde pública. Os incêndios são causados pela maior seca que o Brasil já registrou na sua história recente. Além disso, em São Paulo, por exemplo, doze pessoas foram presas por atear fogo propositalmente em áreas de mata. De acordo com um levantamento da empresa MetSul Meteorologia, 200 cidades do Brasil registraram níveis de umidade menores que os do Saara, deserto localizado no norte da África.
Segundo o meteorologista e professor do Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da UFF, Márcio Cataldi, a seca atual ocorre por conta de um bloqueio atmosférico na região central do Brasil.
“Nos últimos anos observamos um aumento de bloqueios atmosféricos no Brasil, principalmente nas regiões Centro-oeste e Sudeste. Durante os meses de verão, quando esses fenômenos ocorrem no centro do país, por exemplo, a chance de chuva é praticamente inexistente. Apesar da situação no mês de setembro ser crítica, tende a melhorar a partir do próximo mês, historicamente tido como início do período mais úmido, que vai até março. As previsões indicam que entre os meses de outubro e dezembro o país pode ter um regime de precipitação próximo da média histórica, mas a partir de janeiro os bloqueios atmosféricos voltarão a predominar na região central do Brasil e vão fazer com que a chuva esteja abaixo da média histórica até meados do próximo ano”, explica o docente.
A MetSul alerta que, nesta semana, a fumaça que cobre uma extensão de quase 5 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, 60% do território nacional, e deve chegar a estados da região sul que não foram atingidos até o momento. Segundo informações da MetSul, esse fenômeno ocorrerá devido às correntes de vento de norte para sul com ar quente pelo interior do continente e vai aumentar a área coberta pela fuligem, que irá atingir as cidades de Buenos Aires e Montevidéu, capitais da Argentina e do Uruguai, respectivamente.
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Por Kayky Resende
Flávio Rodrigues é professor do Departamento e do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFF. Possui graduação em geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Licenciatura e Bacharelado, Mestrado pela Universidade Estadual do Ceará e Doutorado em Geografia pela UFF.
Márcio Cataldi é professor associado e coordenador do curso de recursos hídricos e do meio ambiente da Universidade Federal Fluminense, docente do programa de pós-graduação de engenharia de biossistemas (PGEB/UFF). Possui graduação em meteorologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestrado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e Doutorado pela UFRJ.